O ciclo da vida política e a avaliação estratégica na eleição de 2026

 



* Paulo Baía


Na política brasileira, assim como na política de outros países que exigem eleições regulares a cada quatro anos para todos os cargos do Legislativo e do Executivo, a consolidação dos personagens políticos eleitorais ocorre dentro de um ciclo de produtividade, um ciclo de vida, que sempre chega ao fim.


Existe o nascimento, a ascensão, o crescimento, a estabilização e a queda, até o encerramento do ciclo. Não há um tempo determinado para isso, pois tudo depende da performance de cada ator político. Alguns têm um ciclo de apenas um mandato, enquanto outros alcançam 50 anos de vida pública eleitoral. Observar esse ciclo é fundamental para o personagem político que sabe avaliar sua trajetória com frieza e racionalidade, que consegue visualizar quando seu ciclo está em declínio e quando ele se encerra.


Essa compreensão do ciclo da política é essencial não apenas para os próprios agentes políticos, mas também para analistas, estrategistas e para o próprio eleitorado, que testemunha e participa das transformações no cenário político. A renovação é uma característica intrínseca à democracia, mas nem sempre ocorre de maneira espontânea. Muitas vezes, políticos se perpetuam no poder não pela vitalidade de sua atuação, mas pela falta de um diagnóstico claro de seu próprio esgotamento eleitoral. A resistência à mudança pode ser um problema tanto para os indivíduos quanto para o sistema como um todo, criando barreiras para a renovação e para o surgimento de novas lideranças.


Nesse sentido, é essencial que o ator político mude seu patamar de atuação para se tornar uma referência. Há inúmeros casos de figuras que reconheceram o fim de seu ciclo eleitoral e passaram a atuar na política como referências. Um exemplo clássico é José Sarney, mas há muitos outros em diversos níveis de nossa Federação Republicana. Essa transição da função eleitoral para um papel institucional, de mentor ou articulador político, permite que o legado de um político permaneça relevante, sem a necessidade de insistir em disputas eleitorais que podem não mais ser viáveis.


Ao se aproximarem as eleições de 2026, esse debate se torna ainda mais relevante. O próximo pleito nacional renovará as cadeiras da Câmara dos Deputados, do Senado, das Assembleias Legislativas, além das disputas para os governos estaduais e para a Presidência da República. Diante desse cenário, a história eleitoral de cada candidato deve ser analisada com rigor, tanto por aqueles que pleiteiam a continuidade no poder quanto pelos eleitores, que precisam avaliar com clareza quais lideranças ainda possuem fôlego político e quais já demonstram sinais de desgaste.


Felizmente, a política contemporânea dispõe de ferramentas para a realização dessa análise de maneira mais precisa. Hoje, contamos com conhecimento científico e tecnológico para essa avaliação, como pesquisas quantitativas e qualitativas, construção de cenários políticos e sociais e avaliação de riscos, que auxiliam na reflexão sobre a vitalidade de um ciclo político-eleitoral. A ciência política, em conjunto com a análise de dados e o comportamento eleitoral, possibilita um planejamento mais estratégico para campanhas, permitindo que candidatos e partidos compreendam melhor suas chances e adequem suas estratégias à realidade do eleitorado.


No entanto, essa abordagem não deve ser encarada apenas como uma ferramenta técnica para maximizar votos, mas sim como um meio de fortalecer a democracia. A renovação política saudável não ocorre apenas pela substituição de nomes, mas pela capacidade do sistema político de se adaptar às transformações sociais. Ciclos políticos não devem ser vistos apenas como fenômenos individuais, mas como processos coletivos que refletem mudanças na sociedade, no eleitorado e nas instituições.


Assim, a análise do ciclo político deve ser incorporada como uma prática constante, tanto pelos políticos quanto pelos eleitores. O fim de um ciclo não significa necessariamente o fracasso de um político, mas pode representar uma transição necessária para novas formas de atuação. Da mesma forma, a ascensão de novas lideranças deve ser acompanhada de uma reflexão sobre quais valores e propostas estão sendo trazidos ao debate público.


Com as eleições de 2026 no horizonte, o Brasil se aproxima de um novo momento de decisão, onde a compreensão do ciclo político pode ser determinante para os rumos do país. Cabe aos atores políticos fazerem essa análise com maturidade e responsabilidade, e ao eleitor exercer seu papel crítico na escolha daqueles que estarão à frente do futuro do país.


* Sociólogo, cientista político e professor da UFRJ


Fonte: Agenda do Poder


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